terça-feira, 11 de agosto de 2009

Reencontro

Estou muito cansada e apetece-me escrever. Há muito tempo que não me apetecia escrever; desde o tempo em que me roubaste as palavras. Estou a olhar pela janela e vejo o amanhecer a impôr-se cada vez mais, no entanto tenho a certeza de que não passa das duas horas da madrugada. Hoje sou o reflexo daquilo que fui e sou a sombra daquilo que serei. Não sou aquilo que sou nem aquilo que pretendia ser, tal como a luz do amanhecer que se infiltra na madrugada. Sou tal como o espelho partido que dá sete anos de azar e como os morangos fora de época. Sou aquilo que fazem de mim enquanto páro para observar a folha que outrora foi verde e que agora cai castanha no chão a anunciar o outono. Adoro a maneira como se dedilha as palavras e como se lhes dá forma. Primeiro surgem na mente como que em névoa e depois, ao passá-las para a escrita, tomam outra aparência, como se a ideia original ficasse oculta numa beleza que para ela foi especificamente criada. Realmente aquilo que sou não passa de um embelezamento da minha própria natureza. Um embelezamento criado pelos outros e para outros, para que eles consigam olhar-me e ver a tal folha que é levada pelo vento, para que para eles, a folha não caia, mas esteja simplesmente à deriva ao sabor da brisa. Por isso é que sou o reflexo do que em tempos fui e a sombra daquilo em que me tornarei... nunca constante e sempre distante. Distante da azáfama humana que toma lugar a passear nas ruas populadas da cidade. Mas não, a minha alma paira sempre num lugar longíquo, onde só os meus pensamentos têm permissão para entrar. É nesse lugar que o meu "eu" se torna "eu" e deixa de ser simplesmente a superfície de um lago. Dá-se o maravilhoso encontro entre a mente e o espírito e o corpo deixa de se movimentar para passar a levitar.
Quero um dia olhar à volta e ver em todas as paredes que me rodeiam, todas as paredes que há medida que o tempo passa se tornam mais apertadas, ver em todas as multidões, o lugar longíquo que marca a passagem do consciente para o inconsciente... o meu, e só meu, Nirvana.

3 comentários:

  1. "Adoro a maneira como se dedilha as palavras e como se lhes dá forma. Primeiro surgem na mente como que em névoa e depois, ao passá-las para a escrita, tomam outra aparência, como se a ideia original ficasse oculta numa beleza que para ela foi especificamente criada."

    Palavras de escritora!
    Está tudo dito.
    Continue a trabalhar as palavras, assim, ainda que no sofrimento de algumas...
    Mas continue a ajustar as palavras aos sentimentos. É tão difícil! E a Maalda faz isso tão bem!
    Força, meu Anjo!
    Continuarei a lê-la, atenta, veneradora e Obrigada por todas as palavras que sabe escolher.
    Um beijo
    C.

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  2. simplesmente adorei a maneira de como dás forma as palavras e as dedilhas..bela leitura para quem anda a espreita pelos blogs.

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