terça-feira, 26 de julho de 2011

Perco-me a cada dia que passa

Olhando para trás enxergo tão bem o que me escapou por entre os dedos. A dor e o sofrimento traziam-me um borbulhar incessante de palavras belas, que escorriam de dentro de mim. Hoje olho-me ao espelho, e consigo atravessar-me. Como se não houvesse matéria física. O que é que me aconteceu? Parece que já não estou recheada de sentimentos e experiências. Sinto que não tenho nada para dar, que não tenho nada para oferecer. Eu não chego, não sou suficiente. Quero arrancar a minha pele transpirada e queimá-la numa fogueira sem fim que exala um odor sufocante. Tornei-me uma espectadora da minha própria vida e olho-me de fora a todos os instantes. Tenho uma vontade raivosa de fugir. Fugir de tudo o que me rodeia. Quero dar um passo em frente e desintegrar-me do meu corpo e da minha alma. Deixá-los para trás... Estou viciada em ser como sou. Sou um disco riscado que encravou e não pára de soar de forma ensurdecedora. Leva-me... por favor, leva-me. Não sei se tenho força suficiente para ser o pilar da mudança que me parece imprescindível. Mas preciso. Se não, o que será de mim? Vaguearei pela vida como uma pétala de flor que é levada pelo vento. Não posso crer. Não é possível que tenha chegado ao ponto de me ter tornado na minha pior inimiga. Não há esperança. Quero atirar-me ao poço e de lá nunca mais sair. Quero adormecer e jamais acordar. Inútil. Preciso de fechar para obras, redecorar o meu interior. Sei lá. Não aguento mais respirar este ar mastigado e de viver esta vida em segunda mão. Desde quando é que passei de protagonista a figurante na peça da minha própria vida. Serei eu quem manda? Poderei de alguma forma recuperar a minha essência esvoaçante? Dá-me alguma coisa, pelo menos. Eu sou eu. Por favor, recupera-me. Aquela ânsia de fazer Teatro que eu tinha... para onde foi? Volta. Volta, conteúdo do meu ser. Peço-te que voltes a fundir-te com as mais ínfimas moléculas do meu corpo sem vida. Acho que é isso. Cheguei a um ponto em que me envergonho de mim mesma. Tenho vergonha de quem sou e do que faço. Terei que parar de escrever para voltar a estabelecer a minha identidade. Adeus.