quinta-feira, 26 de março de 2009

Desta vez


Dizem que a pessoa se habitua a sofrer. Cada vez custa menos.
Ainda bem.
Parece que desta vez já vejo uma luz ao fundo do túnel.
Desta vez não custa tanto.
Desta vez já não é uma serra eléctrica, é só uma faca.
Desta vez já não corre um rio pelos meus olhos, já só molho as pálpebras.
Desta vez já não guincho até ficar rouca, já só mando um grito mudo.


Desta vez já não me apanham a olhar para o horizonte, já só olho para o vazio.
Desta vez já não deixo de rir, já me saem rasgos de sorriso.
Desta vez já não caio, já consigo manter-me de gatas.
Desta vez, consigo olhar para trás e perceber que foi bom, que o voltava a fazer.
Desta vez, consigo perceber o porquê. Ou pelo menos finjo que percebo.
Desta vez, tu fizeste-o outra vez
Mas desta vez, eu já tenho força para não ser arrastada pela corrente.
Desta vez, tu fizeste pior que das outras vezes,
Mas eu já sei comportar-me, já sei curar-me.
Desta vez, já não me apanhas.
Hei-de correr que nem gazela, sem que nenhum de vocês me consiga apanhar.
Andei anos em formação, a dar forma à frase, o que nao nos mata, torna-nos mais fortes.
Agora, cheguei, estou cá e sei que não me arrependo.
Sei perfeitamente que se voltasses, eu estaria aqui para ti.
Mas sei também, que não era por ti, era sim por mim.
Mas eu perdoo, no fim de contas, já mo fizeste tanta vez.
De pior já não posso estar à espera.
Nostalgia.

sábado, 14 de março de 2009

Soltem gargalhadas,
Soltem risos,
Banalizem o pouco que ainda resta.
Afugentem-me, façam-no, porque sou eu que já não quero.
Mas tenho medo de já não querer.
Tenho medo de tomar uma posição, de fortalecer, de me fazer um homem.
Não me culpem, todos temos fraquezas.
Se calhar as minhas estão mais à vista, ou então se calhar estão mais escondidas...
Escondidas atrás de um pano, para escutar toda a conversa.
Soltem gritos,
Soltem palmas,
Vulgarizem o que ainda resta.
Façam-no, por mim, por vocês, pela humanidade.
Banalizem tudo, para que mais ninguém, senão eu e deus, saiba da desgraça.
Saltem, corram, dançem e anunciem a chegada do messias.
O que eu queria agora era uma injecção de adrenalina, ou talvez de estupidez.
Pagaria uma fortuna para ser estúpida.
Para não entender o que entendo.
Mas também não entendo grande de coisa... aliás, não entendo nada.
É que eu já não entendo nada.
Agora basta-me pegar na minha máscara número 1604 e sintonizar na frequência da nostalgia.
Adormeçam as tormentas, pode ser que elas assim não explodam e fiquemos a salvo.
Contem com isso, que assim salvaremos a humanidade.
Acho que foi o melhor plano de salvação alguma vez feito.
Descobri a pólvora.
Continuem a varrer para debaixo do tapete. Enquanto ninguém souber do estado degradante da humanidade, ninguém sofre com isso e continuamos a viver alegremente.
Fantástico, gritem, batam palmas.
A genialidade comove-me.
A genialidade de assumir a estupidez como saída, comove-me.
Mas, realmente, seria ignorância da minha parte achar que tratar de assuntos com inteligência seria um bom caminho para a salvação.
O mundo é uma selva, salve-se quem puder.
A vida, que merda de vida. Que merda de gente, que merda de situações.
Porque é que não podemos ser livres? Livres.
Se ao menos a vida fosse justa, mas não.
Dá-nos uma alegria e logo a seguir tira-nos o chão.
Tento trepar, o mais rápido que possa, trepar as paredes para não cair no fundo do poço.
A minha cabeça vai explodir porque já é inaguentável e insustentável.
Dói, dói.
Saiam todos daqui, vão-se embora, não me toquem, não tenham pena de mim porque eu sei que vou voltar a erguer-me, vou voltar a sonhar.
Eu sei que um dia ainda hei-de amar, amar alguém, amar alguma coisa que seja.
Eu quero amar, quero ser capaz de amar, quero saber o que é sentir que se daria a vida por alguém.
Preciso que me estendam a mão, preciso que me deixem voar, que me deixem sentir, que me deixem ser, ser mais alto.
Sozinha no escuro, sozinha na vida.
Sozinha em todo o lado.
As lágrimas caiem-me pela cara abaixo. Se ao menos eu as chorasse ao pé de alguém. Mas de nada serviria, o ser humano é detestável.
A raiva pelo homem, pelo mundo. Já nem sei o que estou a escrever, estou simplesmente a deixar fluir. O que está a fluir é esta minha raiva.
Raiva por tudo, tudo, tudo.
Por favor, alguém me dê uma razão para acreditar em alguma coisa que seja.
Fé... Não sei. Arrastas-me e eu não sei para onde me levas.
Tu, que vejo seres a minha única salvação. Salvação essa que eu não tenho.
Deixar de existir, queria deixar de existir. Gostava de ser uma deusa, para observar o ridículo do ser humano.
O domingo é um dia tão bonito. É o dia dos piqueniques, dos passeios alegres pelo parque numa tarde amena de verão. É o dia das flores.
Quero um dia de chuva, só para poder dizer que condiz comigo. Quero que hajam tempestades com trovões e relâmpagos, que hajam naufrágios e desastres naturais.
Só para que possa dizer que o mundo condiz comigo, que estamos em sintonia, porque nunca me senti tão fora de tudo.
Sinto-me fora da vida.
Sinto-me fora da vida.
Bato à porta.
Por favor, alguém me deixa entrar?

quinta-feira, 12 de março de 2009

Mas porquê dizer alguma coisa?
Às vezes temos de saber aproveitar o momento sem dizer nada.
Sem abafar a escrita nem as palavras nem a voz que elas têm.
Deixar as palavras fluir sem qualquer sentido.
Sem terem de estar a querer dizer alguma coisa.
Não vamos estragar o sentir com o pensar.
Deixar andar, disfrutar, porque não sabemos quando tempo é que vai durar.

sábado, 7 de março de 2009

Farewell

Ao menos tirei um grande peso de cima, mas acho que nem isso me consola quando penso que ontem perdi um grande pedaço de mim. Deixei em cima daquele estrado um grande pedaço da minha vida, dos meus medos, das minhas angústias, das minhas frustrações. Saio feliz, feliz por tudo o que passei neste último meio ano com ela. Feliz por toda a ligação que criei com ela. Obrigada, ocupaste um enorme lugar em mim. Agora tenho que me despedir, e como disse, deixei contigo grande parte de mim, deixei em ti, grande parte de mim e tu deixaste em mim, uma enorme parte de ti. Eu e tu passámos a ser uma fusão, uma fusão de duas mentes perturbadas, por razões diferentes e em circunstâncias muito diferentes, mas ali e durante este tempo todo, fomos uma só. Fomos uma mistura e uma correspondência, fomos de uma grande cumplicidade.
Eu detesto despedidas, mas vai ter que ser.
Farewell Ophelia.