Arrasto-me por entre a multidão. Arrasto-me por entre a multidão de pensamentos.
Por entre a multidão do vazio, por entre a multidão da doença que me corrói o corpo.
Este corpo, já frágil, frágil e oco.
Estou tonta, tonta de tanto procurar, de tanto dar a volta à cabeça à procura.
Patética de tanto esperar.
Esperar por um nada que nunca vai chegar, porque simplesmente não existe.
E a doença, a doença.
Esta doença que não me deixa viver.
Doença essa que me acompanha e que me faz ver o quanto eu não posso fazer, o quanto eu não tenho direito de fazer, o quanto não é possível.
E eu tento à força viver esta vida, que já está vivida, que já foi mastigada, engolida e cuspida fora. Esta vida que já está tão gasta, tão esfolada, esta vida que não tem ponta por onde se lhe pegue.
Esta vida que é a maior inutilidade deste mundo, e do outro.
Esta vida sem sentido, onde as pessoas procuram à força agarra-se a algo que não existe só para se sentirem seguras e não se aperceberem de que a vida esta vazia.
Vão-se enganando e fingindo que não percebem que nada disto faz sentido, que não há uma lógica para isto.
Isto é o caos, o caos na terra. E todos fecham os olhos a este caos que consome tudo o que há para consumir.
Sobram aqueles que olham, os que vêm a desgraça que habita todos os dias ao nosso lado.
A desgraça que recai sobre todos, mais cedo ou mais tarde.
Mas que importa?
Não há nada para viver, porque a doença não deixa.
Tento despir-me desta pele, mas ela está tão agarrada a mim e ao mundo que não sai.
E eu tento arrancá-la e ela não sai, não sai, não, não sai.
E fico para aqui, moribunda, sem nada a que me agarrar, e a pensar.
A procurar...
A indagar...
Será que um dia?
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